Sabe um livro que você começa a ler sem pretensão nenhuma? Preparada, inclusive, para abandoná-lo a qualquer momento? Foi assim que eu estava quando decidi ler Estado de Graça. Não que eu esperava que o livro fosse ruim, ou porque eu não havia me interessado pela história. Muito pelo contrário. Desde que soube do lançamento deste livro há alguns anos atrás fiquei completamente curiosa para ler e saber mais sobre ele. Mas eu jamais esperava que fosse ficar tão cativada e emergida em uma história assim.
Estado de Graça conta a história da Dra. Marina Singh, uma médica farmacêutica que trabalha para uma grande industria americana da área, a Vogel. A empresa para a qual ela trabalha está desenvolvendo uma droga para infertilidade na Amazônia que promete ser muito promissora. A frente desta pesquisa, está a Dra. Annick Swenson, que pesquisa há anos uma tribo na floresta Amazônica, os
lakashi, onde as mulheres da tribo permanecem férteis até depois dos 60, 70 anos.
Dra. Swenson é uma médica um tanto quanto misteriosa. Apesar de ter seu trabalho financiado pela Vogel, ela se recusa a mandar qualquer informação sobre o andamento e avanços da pesquisa do medicamento, e os chefes da Vogel acabam mandando para a floresta Anders Eckman, um dos colegas de trabalho de Marina. Algum tempo depois, chega a Vogel uma carta da Dra Swenson comunicando que Anders havia pego uma febre e acabou morrendo. A notícia pega a todos de surpresa, e a empresa decide enviar Marina à floresta para que ela possa coletar informações sobre a pesquisa da Dra. Swenson e a morte de Anders.
A primeira coisa que me chamou a atenção nessa história foi: industria farmacêutica, pesquisa, medicina, floresta amazônica. A história não só se passa no meu país, mas também é no meio em que eu trabalho! Só isso bastou para que eu ficasse
muito curiosa para ler este livro desde soube do seu lançamento. Os anos se passaram e um belo dia consegui meu exemplar pela troca no Skoob! Uhuuul! Mas como sempre, havia uma fila gigantesca de livros a frente dele para eu ler, e acabei deixando-o de lado. Até que, no final do ano passado, estava com aquela crise de quero algo para ler mas nenhum dos livros da minha estante me chamam a atenção, quero uma história mais "adulta", mais madura e etc, e aí me deparei com ele. Curiosa fui lá e resolvi dar uma chance à ele. Fui até minha estante, peguei o livro e li UM capítulo. O primeiro e fiquei com preguiça.
Apesar de estar muito curiosa para ler esse livro, quando eu o abri e vi que ele tinha 300 páginas, dividas em 11 capítulos, fiquei com uma enorme preguiça. Sou o tipo de pessoa que gosta de livros com capítulos curtos, sempre acho eles mais dinâmicos (Por favor me digam que não sou só eu que sou assim!). Quando vi que ele tinha capítulos com mais de vinte páginas, dei uma desanimada, e depois do primeiro capítulo resolvi deixar ele de lado por enquanto. Quando estava lendo
Grande Magia, vi uma citação que a Liz faz na história sobre este livro e fiquei com vontade de dar uma chance à ele. E assim que tive a oportunidade, peguei ele novamente e retomei a leitura. Peguei ele pra ler um pouco com o pé atrás, confesso. Estava com medo de não gostar do livro por não estar lendo ele "no tempo certo" e já estava preparada para deixar ele de lado mais uma vez. Mas, assim que eu comecei a ler, não consegui parar!
Comecei a ler ele na noite do último sábado. Reli o primeiro capítulo, li o segundo. Quando cheguei no terceiro pensei: "Só esse e eu vou dormir". Cheguei no quarto capítulo. "Só mais esse e depois cama!". Terminei o capítulo com os olhos fechando de tanto sono, mas eu precisava de mais um capítulo! E assim cheguei na metade do livro. A história não tem nada de muito surpreendente, e eu ainda não consigo entender o que é que me fez ficar tão presa à ela. Talvez o fato de que a história se passe no Brasil, ou o fato de que fale de algo que é bem próximo ao que eu trabalho, não sei... A verdade é que eu não consegui desgrudar do livro até terminar de lê-lo.
"Ele costumava dizer que todos tínhamos uma bússola dentro de nós e o que precisávamos fazer era encontrar e segui essa bússola."
A
Ann Patchett tem uma escrita incrível! Ela é bem detalhista e isso fez com que eu realmente me sentisse dentro da história. Conseguia enxergar o lugar, as pessoas, o rio, as árvores, os índios... Tudo! Mas apesar disso não consegui me conectar a nenhuma das personagens. Achei Marina uma pessoa "fraca" e confusa demais. Ela não sabia o que queria, e não parecia ter paixão nenhuma por aquilo que ela fazia. Por mais que eu entendesse o lado dela, de estar em uma situação totalmente adversa, esperava que ela fosse mais determinada. Já a Dra. Swenson é totalmente o oposto, sabe exatamente o que quer, faz o que faz com uma paixão exagerada e uma determinação ímpar. Uma determinação exagerada, aliás, que chega a incomodar em alguns pontos. Não consegui me identificar com nenhuma delas, mas consegui relacionar a personalidade de cada uma com pessoas que encontro diariamente nesse meio acadêmico, o que me ajudou a entender o jeito de cada uma.
Já a parte "científica" da história me deixou completamente extasiada, e acho que foi a coisa que mais me fez ficar ligada ao livro. Ann conseguiu descrever todo o processo da pesquisa impecavelmente. Estava com medo de que a autora descrevesse esta parte como uma leiga, de um jeito fantasiado, mas não. Ela conseguiu descrever tudo de um modo tão real que tive certeza que ela sabia muito bem do que estava falando. Além desta parte, foi muito curioso vê-la descrever a Amazônia e os costumes de lá pelos olhos de um estrangeiro. Nunca conheci esta parte do país, mas consegui entender a estranheza que Marina sentiu ao chegar em um local tão quente e úmido, além do choque cultural com todos aqueles índios e cultura local sendo muito bem explorados.
"... nunca fique tão concentrado no que procura para não deixar passar o que você realmente vai encontrar."
O final do livro confesso que foi um pouco decepcionante, mas ainda assim muito surpreendente. Os acontecimentos finais me pegaram totalmente desprevenida. Jamais esperava que algumas coisas pudessem acontecer do jeito que aconteceu na história, e apesar de achar uma cena ou outra desnecessária, fiquei feliz com aquele desenrolar inesperado. Porém me decepcionei porque, ao contrário de toda história, em que tudo é tão bem descrito e detalhado, nos últimos capítulos as coisas acabam acontecendo rápido demais e você não tem tempo nem pra pensar no que está acontecendo naquelas páginas. Seria bem melhor se a autora tivesse acelerado mais as coisas no começo e diminuído o ritmo no final.
No mais, é um livro que eu acabei gostando muito mais do que eu imaginava e acabou me surpreendendo de muitas maneiras. Não acho que seja um livro que vá agradar muita gente. A história é bem simples, não tem um grande enredo e as personagens principais não são tão cativantes assim. Mas ainda assim vale a leitura.
Se você já leu este livro não deixe de comentar aqui embaixo, me contando o que achou. Se ainda não leu, ou não conhecia, me conta o que achou, se ficou curioso para saber mais sobre o livro e quem sabe ler ele no futuro também.
Um super beijo, pessoal.
Até a próxima.